quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Monges e Religiosos




    A “fuga do mundo” é um tema recorrente da retórica monástica medieval, mas sua prática concreta tomou formas diversas, indo do retiro propriamente dito em lugares isolados, a uma ruptura mais figurada, permitindo aos monges que não deixassem os centros de habitação e as relações sociais. A idade de ouro do monasticismo ocidental estendeu-se do século VIII ao século XII. O monasticismo cristão apareceu na parte oriental do Império Romano, sob o aspecto de um fenômeno claramente marginal, uma característica que ainda conservava quando se alastrou pelo Ocidente.

A origem Oriental

O monasticismo cristão tem sua origem no Egito do século III. A expansão da comunidade crista levou à ramificação do clero, que se dotou de uma estrutura complexa e hierárquica; a autoridade doutrinária e disciplinar concentrou-se então nas mãos dos bispos.
Quando Constantino tornou o cristianismo legítimo e não foi mais possível provar a fé pelo martírio, os autores monásticos sustentaram que os monges eram autênticos herdeiros dos mártires. Outros escritos apresentavam ainda o mosteiro como uma cidade no deserto. Trata-se evidentemente de uma anticidade, fundada em oposição a quase tudo o que encarnara a Polis ou a Civitas, entidade social essencial da Antiguidade.

Os Debates Ocidentais

Textos espirituais começaram a estar disponíveis em tradução latina. Foi assim que a vida monástica implantou-se de múltiplas formas nas províncias ocidentais, começando pela África do Norte, Itália, Gália e Espanha. Não conseguindo barrar o monasticismo, os bispos manifestaram abertamente sua desaprovação e seu desgosto. A Irlanda constitui uma interessante exceção a este esquema.
Na mesma época existiam no continente, em todas as províncias romanas ocidentais, tanto para mulheres quanto para homens, comunidades monásticas que sofriam com as migrações germânicas. Estas comunidades eram governadas por diferentes regras monásticas, algumas importadas e traduzidas, outras de origem local.
O monasticismo foi, portanto, um movimento propalado no Ocidente, mas teve faces diferentes, implantou-se em lugares afastados e caracterizou-se, em termos sociais e com exceção da Irlanda, por uma natureza claramente marginal. Essas tendências começaram a inverte-se com o papa Gregório.
A adaptação do monasticismo irlandês baseado no clã à estrutura da sociedade aristocrática franca produziu uma mistura única e original.

A unificação Carolíngia

O fortalecimento do principal papel social do monasticismo na Europa está diretamente ligado ao da dinastia Carolíngia. Carlos Magno empregou monges para aconselhá-lo e para orar pelo sucesso de seus exércitos. A partir de então, os monges foram acessórios habituais da realeza cristã germânica. O modelo monástico que surgiu no início da época carolíngia desenvolveu-se sem contestação durante mais de três séculos. Sua característica determinante era a litúrgica.
Os monges e as religiosas eram indispensáveis à sociedade em razão de seu quase monopólio sobre a oração. A função religiosa era essencial na concepção da organização social então amplamente compartilhada.
Em retribuição a todos os serviços que prestavam, os monges beneficiavam da generosidade dos leigos. Homens querendo assegurar sua salvação doavam importantes superfícies de terra às comunidades monásticas. Renunciar os costumes pagãos: deixar de cobrir os mortos com ouro, prata e pedras preciosas, instrumentos e armas, objetos que supostamente os ajudariam na viagem ao Além. Em vez de desaparecer, esse hábito foi direcionando para as igrejas monásticas, onde os objetos preciosos foram reunidos, transformados  em acessórios litúrgicos. As despesas ostentatórias deslocaram-se da tumba para o santuário.
O plano habitual de um mosteiro compreendia também uma biblioteca. Nos primeiros séculos da vida monástica, o valor do saber e da instrução fora considerado com certa ambivalência, mas o monasticismo ocidental foi constantemente erudito. Os livros eram venerados como objetos sagrados e a obra de um copista era considerada um ato espiritual.

Críticas e reformas

Antes que esta forma grandiosa de vida monástica tivesse atingido seu apogeu, certas vozes manifestaram-se para criticar não só seus excessos mas também seus princípios básicos. Assistiu-se então ao aparecimento dos movimentos dissidentes.

As ordens mendicantes

No início do século XIII, as ordens de frades mendicantes não sintetizaram apenas as principais evoluções da vida religiosa dos dois séculos precedentes. Elas foram bem mais longe. A principal característica de espiritualidade mendicante era o apostolado ativo voltado para a população urbana laica. Ao contrário os mosteiros, os conventos das Ordens Mendicantes estavam situados nas cidade; os frades passavam frequentemente de um convento a outro de sua ordem, em função das necessidades do ministério.
As mulheres não foram bem acolhidas pelos movimentos eremíticos e, após um primeiro período de tolerância relativa, elas acabaram sendo excluídas dos movimentos monásticos reformados. A verdadeira provação chegou com a fundação das Ordens Mendicantes. Os chefes destas ordens e seus inspetores pontificais não autorizavam as mulheres a participar do que fazia a especificidade da espiritualidade dos frades, quer dizer, o apostolado urbano.
Diante de uma conjunção de fatos, pode-se compreender que nos séculos XIII e XIV o misticismo tenha se tornado a vocação espiritual feminina por excelência. Nas cidades onde existiam várias ordens de frades, os conventos mendicantes estavam geralmente situados longe do centro, e longe uns dos outros. Os frades não se limitaram apenas a criar uma nova forma de vida religiosa, fizeram muito mais, incentivando uma nova espiritualidade laica.
A conclusão lógica do programa dos frades, que consistia em fazer os leigos participarem da vida espiritual, representava uma das ideias religiosas mais radicais daquela época: incitando leigos comuns a viver na religião, eles tendiam a tornar supérfluas as ordens religiosas e o clero.

Dissipação e Posteridade

No início, a história dos frades brilhava com inovações e entusiasmo. As novas ordens atraíram, é certo, homens de talento como as vedetes da vida universitária do século XIII, enquanto as comunidades monásticas não seduziam mais os candidatos de valor. Graças às dotações substanciais, os mosteiros continuaram funcionando no século XIV e XV, mas tratava-se então de instituições extremamente conservadoras, atrasadas em todos os campos de atividade, inclusive na espiritualidade.
Desde o momento de sua introdução a partir do Oriente no século IV e até a Contra-Reforma, a vida monástica ocupou um lugar de primeira importância no Ocidente medieval, uma importância desproporcional ao pequeno número de pessoas realmente envolvidas.

São Francisco de Assis

           A mensagem de São Francisco de Assis continua atual. Segundo o historiador Jacques Le Goff, os valores os quais o santo disseminou — amor à natureza, liberdade de espírito, anti-consumismo e vida comunitária — representam hoje uma busca existencial da atual sociedade. Segundo Le Goff, Francisco difundiu um apostolado voltado à nova sociedade cristã e enriqueceu a espiritualidade com a dimensão ecológica, colocando-o assim como o criador de um sentimento medieval da natureza expresso na religião, na literatura e na arte.
                O balanço da trajetória de um homem decisivo e de seu tempo, nesse sentido, procura definir a perspectiva a partir da qual é possível avaliar o que restou do franciscanismo para os contemporâneos, bem além das bulas papais ou determinações eclesiásticas. Um franciscanismo que foi capaz de corresponder à acelerada mudança histórica que viveu e, ao mesmo tempo, lançar luzes sobre o advento tão futuro da modernidade, insinuada nas práticas que dissolviam as fronteiras entre leigos e religiosos e definiam o valor da experiência e do exemplo.



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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A Crise Religiosa do Séc. XII.

Resultado de imagem para igreja seculo xiiCom inicio em fins do séc. XI e desenvolvendo-se por todo o séc. XII, verificou-se uma mudança nítida da ênfase religiosa. Acentuava-se agora a importância de um ingresso evangélico no mundo.  A igreja a influenciar o mundo, organizando-o e conduzindo-o à salvação. Essa mudança foi considerada a crise religiosa do séc. XII.
Nesse estudo reavivado do evangelho os cristãos se tornaram coletivamente do mundo que os rodeava e procuraram racionaliza-lo.
O pecado deixaria de ser uma questão de ações externas com contra ações de penitencia, mas passava também a ser contrição interior do foro intimo de cada um, essa espiritualidade a corresponder aos desenvolvimentos agrários e urbanos no sentido da expansão da Europa, que estavam também a verificar-se em diferentes esferas do séc. XII.


Raízes da crise
O período antes e depois do papa Gregório VII foi destinado a reformar a igreja e esclarecer seu papel no Império. A Igreja tornara-se negligente e mundana, reinava abusos dos clérigos, e leigos importantes da Igreja.
A diferença entre a verdadeira igreja primitiva e a elaborada maquinaria administrativa montada para o fortalecimento do poder papal era tão grande que dava lugar a que estivessem sempre em oposição direta. Tornando difícil dissimular essa disparidade. E deixou de poder ser contida quando o papado progrediu mais no sentido da eficiência administrativa do que no campo apostólico. Que no somatório viria a desenvolver o seu papel na crise do séc. XII.
A reforma que corrigiu os abusos do séc. XI já não era suficiente, sendo necessário a cada vez mais novas reformas.
Talvez o aumento da população, o crescimento das cidades, o numero crescente de oficiais, a diminuição da importância dos rituais e a mudança na aceitação da obediência a autoridade desempenharam a sua parte na formulação da crise religiosa.

Reagindo à crise - a vita apostólica

Floresce a tentativa de um retorno ao exemplo de cristo e dos apóstolos. Com o texto de atos que os apóstolos viviam fraternalmente, em que tudo o que possuíam era comum, exigindo testemunho de fé, amor fraternal, pobreza e bem - aventurança.
A vita apostólica e sua aplicação ajudaram a formular um ideal de vida cristã e os termos em que ela era vivida. O homem comum voltava a ganhar importância e ajudaria a espalhar a palavra de Deus tal como nos tempos apostólicos.

Reagindo à crise – monasticismo

O sistema monástico passou a ser considerada a verdadeira vida comunitária, porém não se adequava a condição de cristão – novo na sociedade. O seu principal valor para a comunidade era a sua função intermediaria.
Os monges sustentavam que a verdadeira vida apostólica era a deles. Falavam do monarquismo como o “caminho mais certo para o Céu”, já no fim do séc. XII muita gente não aceitava isso como certo.

Reagindo a crise - a Igreja secular

As reformas no inicio desse período investiram no sentido de haver conformidades eclesiásticas com os padrões da vida monástica. O celibato era essencial para essa finalidade. Seguiu-se um decréscimo daquele sentido de total comunhão de fé que se esperava que a Igreja proporcionasse.

Reagindo à crise - o avolumar da religiosidade laica

Um avolumar de leigos que proclamavam o valor absoluto e literal dos evangelhos.  Todas as classes estavam representadas nesse grupo, atraídos a dar expressão a um novo estilo de vida através de seu testemunho pessoal.
A pregação era uma questão central, seguiu-se um declínio no significado do clero, acompanhada por uma aceitação crescente dos leigos. A fundação das ordens mendicantes consagrou o evangelismo e a Igreja, o estudo da bíblia formando a liturgia da igreja. Com esse reconhecimento a igreja se esforçava em solucionar o surgimento apostólico que acabasse por rejeitar as normas estabelecidas.

Reagindo à crise – perigo da heresia

O perigo de interpretações erradas exigia coisas como evitar a blasfêmia e o juramento, com muitas dessas ideias podiam ser levadas ao extremo. Leigos que haviam conseguido a liberdade evangélica podiam abusar dela.
Para limitar este perigo, a igreja tinha como objetivo estabelecer a ligação com a autoridade para confessar e para ministrar a penitencia. Na questão da heresia, o que se considerava era a obediência, embora existisse diferença entre doutrina e interpretação.
      Era possível detectar um conflito entre o anticlericalismo e a vontade de fazer o que a Igreja desejava. Inocêncio II chamou para si a responsabilidade de tornar clara a distinção para evitar divisões prejudiciais. Essa distinção permitia que aqueles que fossem autorizados pela Igreja dessem testemunho de fé e pregassem. O quadro em que estas crenças se manifestavam tivesse sofrido uma evolução que refletisse não só o despertar espiritual da vita apostólica como também a autoridade da igreja.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Missão dada é missão cumprida?!?

    A violência no Brasil é algo factual e alarmante. Não há um só dia que as manchetes dos jornais não nos de à certeza de estarmos em uma sociedade em guerra. O fator complicador é que isso se arrasta por décadas nas principais capitais e demais regiões do país. O documentário "Notícias de uma Guerra Particular", produzido na década de 1990, retrata muito bem o âmago da violência no Estado do Rio de Janeiro e o constante desafio das forças de Segurança que sozinhas tentam contê-la. Contudo, muitas vezes, acabam prosperando-a, o que não é diferente no restante do País. Vale muito a pena, assista e compare com os dias atuais!!!










quarta-feira, 9 de novembro de 2016

"O Passado que virou Presente!"

       As Revoluções Populares de 1848 ou Primavera dos povos, foram uma série de revoluções na Europa Central e Oriental que eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas, do aumento da falta de condição financeira, da falta de representação política das classes médias e do nacionalismo despertado nas minorias. Estas abalaram as monarquias europeias do período que, já haviam fracassado nas tentativas de reformas políticas e econômicas em seus países.
   Este conjunto de revoluções, de caráter liberal, democrático e nacionalista, foi iniciado por uma crise econômica na França de Felipe de Orleans e, foi a onda revolucionária mais abrangente da Europa. Ao direcionar seu governo para interesses da Burguesia, Luís Felipe de Orleans, o Rei burguês, despertou a oposição da população mais pobre, dos republicanos e também dos socialistas, grupo que se fortalecia cada vez mais na Europa, estabelecendo o cenário ideal para o levante popular que o derrubou: A Revolução de 1848. O primeiro presidente eleito para assumir a França foi Luiz Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte. Pouco antes do final de seu mandato, em 1851, Luís Bonaparte deu um golpe de estado e implantou o Império de Napoleão III. Cerca de 50 países foram afetados, embora as revoluções fossem locais e não houvesse uma coordenação entre elas. Os levantes foram liderados por uma mistura de reformadores, de membros da classe média e de trabalhadores, que não mantiveram-se unidos por muito tempo ficando conhecido com "Primavera dos Povos". Tudo isso, não te lembra alguma coisa?!
    Nos últimos tempos, no Brasil, percebemos alguns movimentos que remetem aos descritos nos dois parágrafos anteriores, de fato com uma incrível semelhança. A tomada da esplanada dos ministérios, a invasão do congresso nacional e ontem, 08/11/2016, a invasão e depredação da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro nos faz ter duvidas em que século estamos vivendo, XIX ou XXI? Não pelos atos de vandalismo, mais pelo fato da História estar se repetindo de forma incrivelmente semelhante com o passado. Parece que mais uma vez o povo se levanta contra seus "líderes" e a pergunta que ainda não tem resposta é: O que irão, eles, fazer? Bom, fugir, mentir, enganar, persuadir...tudo isso a população já sabe que eles fazem rotineiramente e, por isso, já está preparada para não acreditar. A impressionante semelhança do passado com o presente e as previsões para o futuro do Rio de Janeiro fazem lembrar uma frase muito famosa de Karl Marx: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa." Ainda há muito o que aprender sobre política no Brasil. O conforto? É que já começamos a estudar!


Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro - ALERJ tomada por manifestantes contra o "pacote de maldades" do Governador Pezão. (fonte: web)
     



domingo, 6 de novembro de 2016

Ontem, hoje... Até quando?!

   


   Durante o Século XVIII, o Brasil-Colônia pagava um alto tributo para seu colonizador, Portugal. Esse tributo incidia sobre tudo o que fosse produzido em nosso País e, sobre a produção aurifera, eram 20%, ou seja, 1/5 da produção. Essa taxação altíssima e absurda era chamada de "O Quinto". Este Imposto, "O Quinto", era tão odiado pelos brasileiros, que, quando se referiam a ele, diziam "O Quinto dos Infernos". E isso virou sinônimo de tudo que é ruim. A Coroa Portuguesa quis, em determinado momento, cobrar os "quintos atrasados" de uma única vez, e ainda, aumentar a tributação no intuito de compensar a diminuição na produção aurífera, tal episódio ficou conhecido como "Derrama". Isso revoltou a população, gerando o levante chamado de "Inconfidência Mineira", que teve seu ponto culminante na prisão e julgamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário IBPT, a carga tributária brasileira chegou ao final do ano de 2011 a 38% ou praticamente 2/5 (dois quintos) de nossa produção. Ou seja, a carga tributária que nos aflige é praticamente o dobro daquela exigida por Portugal à época da Inconfidência Mineira, o que significa que pagamos hoje literalmente "dois quintos dos infernos" de impostos... Para quê? Para sustentar a corrupção? Os mensaleiros? O Senado com sua legião de "Diretores"? A festa das passagens, a farra (literalmente) com o dinheiro público, as comissões e jatinhos, a festa familiar nos 3 Poderes (Executivo/Legislativo e Judiciário)?
Nosso dinheiro é confiscado no dobro do valor do "quinto dos infernos" para sustentar essa bagunça política, que nos custa o dobro do que custava toda a Corte Portuguesa! E pensar que Tiradentes foi enforcado porque se insurgiu contra a metade dos impostos que pagamos atualmente!!!

Reflita!





quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Grécia Antiga



Formação, evolução e consolidação da Pólis

   O primeiro passo para uma nova formação social, ou seja, o desenvolvimento da polis grega, foi a dissolução das comunidades gentílicas. Até o período Homérico, as famílias situavam-se em pequenas unidades agrícolas onde se dividia todo trabalho e produção. 
    Ao fim deste período, as comunidades gentílicas entram em crise a partir do momento em que as técnicas de produção não são suficientes para abastecer toda a comunidade. Com o tempo as melhores terras ficaram restrita a uma determinada classe, o que acabou subjugando os outros integrantes da comunidade.
  Com o passar do tempo, a questão da propriedade da terra estabelece o aparecimento de disputas e diferenças sociais entre os gregos. Por isso, alguns estabelecem alianças entre si para articular a defesa de suas propriedades. Nesta época a nascente elite proprietária de terras protagonizou a adoção das principais medidas de ordem política. Pouco a pouco, os proprietários das terras passam a ter mais poder.
   Na medida que se associavam consolidando sociedades mais amplas, as questões a serem solucionadas e as medidas que seriam adotadas pelos gregos se tornam cada vez mais complexas. A cobrança de imposto foi prevista em lei, realizar obras públicas também, a lei também previa a criação de sanções e a regulação do cotidiano daqueles que viviam na Pólis, nesse momento formada pela reunião de inúmeras comunidades gentílicas.
    Do ponto de vista histórico, a Pólis formada na Grécia não só determinou a presença de uma organização populacional mais extensa, foi de grande importância para que os gregos passassem a debater;elaborar e transformar as suas leis. “Transformavam a feição da política no mundo antigo ao não restringirem a mesma as antigas tradições orais ou a simples autoridade de um governante maior.”

A sociedade ateniense 

    Atenas, na antiguidade, era uma sociedade não militarista, ou seja, pacífica. Isso era o oposto do que se via em Esparta. Atenas se destacava das outras cidades gregas por ter adotado a democracia. A sociedade ateniense era dividida no período do seu apogeu em: Eupátridas – alta aristocracia, direito a cidadania, progressivamente abrangeu os menos favorecidos; Metecos – pequenos comerciantes, sem direitos de cidadão e Escravos – prisioneiros de guerra e condenados por algum crime, eram também considerados escravos os que não pagavam dívidas e os não cadastrados como Metecos.
     A política ateniense passou pelas fases de monarquia, arcontado, tirania e democracia. O governo era inicialmente monárquico, sendo os reis considerados descendentes de Erecteu. A sociedade era organizada em famílias, fratrias e quatro tribos. A exigência por parte das classes mais baixas de que as leis fossem escritas e publicadas levou a escolha de mais seis arcontes, os tesmotetas, magistrados responsáveis pela produção e interpretação das leis, o que deu origem a organização jurídica no estado ateniense.
     A boulé, formada por quem já tinha ocupado o cargo de arconte, obtinha o poder legislativo.

A sociedade espartana

   O surgimento de Esparta foi em meados do século IX a.C.. Durante a época micênica existiram no sul do local onde nasceria Esparta dois centros urbanos: Amiclas e Terapne.
     Devido ao problema gerado pelo aumento populacional e pela falta de terra, Esparta decidiu pela via militar para solucionar a problemática, diferente de Atenas. Assim, Esparta decidiu conquistar territórios adjacentes e aumentar seus domínios. Na luta pelo domínio no Peloponeso, Argos foi sua principal rival.
      Em 570 a.C., a tentativa de conquistar Arcádia foi fracassada, Esparta optou pela diplomacia, alterando a sua política. Com isso, Esparta oferece a outras localidades do Peloponeso a possibilidade de integrar uma liga liderada por ela própria, chamada liga do Peloponeso. Com exceção de Argos, a maioria integra a liga.
       Durante as guerras persas Esparta liderou as forças de defesas da Grécia em terra, e Atenas no mar. Com o final da guerra, as relações entre as duas cidades estados entram em colapso e culmina na guerra do Peloponeso, vencida por Esparta.
     A educação espartana que recebia o nome de agogê, apresentava uma particularidade que diferenciava-se totalmente de Atenas, estava nas mãos do estado. Era basicamente de orientação para a guerra e a segurança da cidade. Valorizava-se os atributos físicos e tinha o objetivo de trazer o sentimento patriótico. As crianças eram separadas de suas famílias e levadas aos centros de treinamentos espartanos já aos 7 anos de idade. Quando uma criança nascia com alguma deficiência, era deixada em um local próprio para morrer. A educação espartana era supervisionada por um magistrado especial, o paidónom.Existiam três ciclos: dos 7 aos 11; dos 12 aos 15 e dos 16 aos 20. Ao final do treinamento o jovem guerreiro deveria matar um hilota sem ser visto e assim tornar-se um guerreiro do exército, se fosse pego sofreria as sanções da lei pelo assassinato do hilota.
  As mulheres recebiam uma educação parecida com as dos homens. O objetivo era favorecer o seu treinamento não só para o combate mais para moldar seus corpos de forma a ficarem fortes e saudáveis para poderem procriar.
    A sociedade espartana era estratificada, sem possibilidades de mobilidade entre os três grupos existentes, ou seja: os esparciatas, os periecos e os hilotas. Esparciatas – Pertenciam a este grupo os filhos de pai e mãe espartanos e eram os únicos que possuíam direitos políticos; Periécos – Eram os habitantes das cidades da periferia ligados ao estado espartano e pagavam impostos eram livres e não tinham direitos políticos; Hilotas – Eram os servos, pertenciam ao estado espartano, trabalhavam nos kleros, entregavam metade das colheitas aos espartanos e eram muito explorados, diferente dos escravos de Atenas os hilotas não eram mercadorias.

Atenas X Esparta: Principais diferenças

    Podemos observar nos textos que Atenas e Esparta possuem características bem peculiares e se divergem uma da outra em alguns pontos. No que se trata de escravidão, natural que em Atenas o cativo seja tratado com mercadoria, uma vez que lá foi o berço desta prática. O que difere dos hilotas de Esparta que são servos e apesar de serem subjugados e extremamente explorados não são mercadorias e pertencem ao estado. Já na política, Esparta tem a tirania como base de governo, assim como, a utilização de força militar para a proteção, isto difere completamente de Atenas, já que esta utiliza-se da democracia e é desmilitarizada. A mulher também é um assunto divergente, na cultura ateniense a mulher é instruída para afazeres domésticos, já em Esparta ela também é treinada para compor o exército. A educação em Atenas visava estabelecer uma ligação entre mente e corpo, a filosofia surgia para embasar esta educação, enquanto em Esparta toda a educação era voltada para a formação militar e preparação para a guerra.

A guerra do Peloponeso

     Esta guerra foi um conflito armado entre Esparta e Atenas. Foi registrada por Tucídides e Xenofonte. De acordo com o primeiro, a razão da eclosão da mesma foi o crescimento do poder ateniense e o temor que este despertava nos espartanos.
     A guerra do Peloponeso marca uma grande mudança na história da Grécia, principalmente nos aspectos militares, políticos, sociais e econômicos. Inicia o declínio da cidade como objeto essencial da civilização da Grécia. Uma das mais importantes mudanças ocorridas com esta guerra foi a monarquia, que iria dominar na época helenística.
    Muito importante também foi o fato do conflito ter envolvido quase todos os estados gregos, além dos números sem precedentes de arma, homens e o grande consumo de recursos materiais. Por ter seus desfechos entre a Ásia Menor e a Sicília, o poderio naval foi de suma importância. Antes as guerras eram de curta duração, ocorriam alguns encontros de infantaria (hoplitas). A guerra do Peloponeso foi diferente, grandes blocos de estado, várias áreas de combate, estratégias muito bem definidas e dependendo da ação de Esparta ou Atenas – uma, potencia terrestre; a outra, potência naval e possuidora de um império financeiro e comercial. 
    Esparta sai vencedora da guerra, contudo, logo se veria dominada e seu império englobado pelos macedônios. Felipe da Macedônia toma o mundo grego e inicia o que viria a ser um dos maiores impérios que o mundo já viu, não em suas mãos, mas nas do seu filho - Alexandre, o grande.