quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A Revolução Sandinista


No início do século XIX, passado o processo de independência mexicana, as regiões pertencentes à América Central experimentaram diversas transformações políticas em favor da formação de várias nações independentes. Na maioria dos casos, as elites locais obtinham o apoio estadunidense e britânico na formação de nações frágeis e incapazes de fazer frente aos interesses das potências capitalistas. Foi nesse contexto que notamos o surgimento da Nicarágua.

Por volta da década de 1920, o camponês Augusto César Sandino iniciou a formação de um grupo revolucionário determinado a dar fim à intervenção imperialista em seu país. Entre outros pontos, Sandino defendia a realização de um projeto de distribuição de terras e saída dos militares americanos que ocupavam o território nicaragüense. Dessa maneira, os partidários de Sandino participaram de movimentos de guerrilha que atuaram no país entre 1926 e 1933.

Após conseguir a saída das tropas estadunidense do país, Sandino aceitou assinar um acordo onde concordava em depor das armas mediante a preservação da soberania de seu país. A opção pela pacificação política permitiu que militares liderados por Anastásio Somoza Garcia empreendessem o assassinato do líder revolucionário e instalassem um governo ditatorial alinhado aos interesses norte-americanos. Entre as décadas de 1930 e 1970, a família Somoza controlou os ditames da vida política nicaragüense.

Contudo, em 1961, um novo movimento guerrilheiro foi formado com o objetivo de acabar com a ingerência estrangeira e a opressão ditatorial. A partir da reunião de líderes, como Tomás Borge, Carlos Fonseca e Carlos Mayorga, fundou-se a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Seus partidários passaram a formar sindicatos, abrir escolas de alfabetização e organizar focos em favor do seu projeto de natureza socialista.

No início de 1978, uma guerra civil tomou conta do país após a morte do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, que participava ativamente contra a ditadura da família Somoza. Por meio de batalhas contra as forças governistas, a FSLN conseguiu dominar o Palácio Nacional de Manágua, na capital do país. Chegando ao poder por meio da formação da Direção Nacional da Frente Sandinista de Libertação Nacional, o novo governo representado por Daniel Ortega prometeu dar fim às mazelas que tomavam o país.

No plano político interno, os sandinistas promoveram uma aproximação com as nações do bloco socialista. Além disso, prometiam um amplo processo de desapropriação onde o Estado controlaria as terras e as demais forças produtivas do país. O projeto radical oferecido pelos sandinistas acabou não só incomodando os interesses do bloco capitalista, bem como de porções heterogêneas da população nicaragüense. Dessa maneira, a partir de 1981, formou-se uma ação contra-revolucionária no país.

Os oponentes do governo sandinista, popularmente conhecidos como “Contras”, tiveram o apoio financeiro dos Estados Unidos e de membros da alta cúpula católica do país. Durante toda a década de 1980, o governo sandinista enfrentou uma grave crise econômica que ampliou as forças oposicionistas e colocou a Nicarágua à beira do caos. Em 1990, a crise acabou configurando uma derrota eleitoral dos sandinistas e a eleição de Violeta Chamorro.

Somente após uma seqüência de governos de tendência neoliberal e conservadora, os sandinistas se fortaleceram politicamente com as permanências dos problemas que afligiam a população. Em 2007, Daniel Ortega voltou à presidência com um discurso político moderado e com o apoio declarado dos norte-americanos. Hoje, o histórico líder da revolução de 1979 tem de enfrentar o atraso tecnológico, a inflação, o desemprego e a dívida externa que corroem a Nicarágua.



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A Guerra de Secessão


   A Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, aconteceu nos Estados Unidos entre os estados do Norte e os estados do Sul, de 1861 a 1865. Esse conflito foi iniciado quando os estados do Sul separaram-se da União e formaram os Estados Confederados da América. A Guerra de Secessão foi motivada pela divergência que havia entre os dois grupos a respeito da abolição da escravatura e da extensão dos novos territórios que estavam sendo ocupados no oeste.

Antecedentes:

    Durante a década de 1850, os Estados Unidos eram uma “nação dividida” entre os estados do Norte e os estados Sul. Apesar de haver algumas concordâncias e similaridades entre os lados a respeito da política imperialista dos Estados Unidos, havia também uma enorme discordância acerca do modelo de sociedade com o qual os novos territórios seriam povoados.
   O Norte era caracterizado pelo desenvolvimento de uma forte indústria, defensor do trabalho livre assalariado e composto por uma forte classe média urbana. O Sul, por outro lado, possuía uma economia basicamente agrícola, voltada para a produção de algodão no sistema de plantation, com utilização extensa do trabalho escravo.
   A grande divergência entre os dois lados durante a década de 1850 girava em torno da questão da política a ser adotada nos novos territórios que haviam sido conquistados. O Sul defendia a extensão do modelo escravista para os novos territórios, e o Norte defendia que os novos territórios deveriam ser constituídos com a proibição da escravidão.
   Essa disputa entre Norte e Sul relacionada ao uso da mão de obra escrava intensificou-se a partir da ocupação do Nebraska e do Kansas. O presidente americano Franklin Pierce mostrou-se favorável à extensão da escravidão para o Kansas, e isso gerou grande insatisfação na ala abolicionista. A disputa no Kansas, inclusive, levou a pequenos conflitos armados entre milícias de abolicionistas e escravocratas no final da década de 1850.

Abraham Lincoln e a Guerra Civil: 

   A rivalidade entre a ala abolicionista e a ala escravocrata alcançou o debate presidencial nas eleições de 1860. O principal representante dos democratas era Stephen Douglas, e os republicanos estavam representados por Abraham Lincoln. A vitória de Abraham Lincoln nas eleições de 1860 gerou grande insatisfação no Sul.
   O presidente Abraham Lincoln mantinha uma postura ambígua a respeito da escravidão, pois era um defensor da abolição da escravatura, porém acreditava que a “raça branca” era naturalmente “superior”. Além disso, Lincoln afirmava que não aboliria a escravidão nos locais em que ela já existisse e defendia a sua manutenção exclusivamente no Sul, ou seja, era contrário a sua expansão para os novos territórios, como o Kansas. A postura de Lincoln recebeu críticas dos dois lados: os nortistas consideravam-no muito conservador, enquanto os sulistas consideravam-no um abolicionista radical, mesmo Lincoln adotando medidas conciliatórias.
   A insatisfação dos estados sulistas com a presidência de Abraham Lincoln relacionava-se à questão da escravidão e motivou-os a rebelarem-se contra o governo americano. Os sulistas passaram a defender um discurso separatista, e, como consequência, o Sul acabou declarando sua desvinculação da União e formação de uma nova nação, conhecida como Estados Confederados da América. A eleição de Lincoln e a separação dos estados sulistas foram, portanto, os estopins para o início da Secessão em 1861.
   O primeiro estado sulista a separar-se da União foi Carolina do Sul, que foi seguido por Alabama, Flórida, Mississipi, Geórgia, Texas e Luisiana. O ataque que marcou o princípio da guerra civil também foi realizado pelos sulistas contra um forte da União (Forte Sumter), instalado em Charleston, na Carolina do Sul. Lincoln – que afirmava que não aceitaria nenhum tipo de separatismo – convocou os exércitos para lutar contra os separatistas e reintegrá-los à nação.
    A convocação dos exércitos da União por Lincoln fez com que outros estados sulistas declarassem sua secessão e se vinculassem com os confederados: Virgínia, Arkansas, Carolina do Norte e Tennessee. A resposta de Lincoln ao ataque no Fort Sumter, em Charleston, veio com o envio de 80 mil soldados. A partir disso, a Guerra Civil Americana espalhou-se pela nação.
     No início do conflito, o Norte possuía uma larga vantagem em relação ao Sul: os nortistas possuíam maior contingente militar, uma economia muito mais desenvolvida e melhor infraestrutura. Apesar disso, os sulistas alimentavam um forte otimismo em suas capacidades. Além disso, os sulistas contavam com a liderança de importantes estrategistas militares, como o general Robert E. Lee.
     A Guerra Civil Americana foi o pior conflito da história dos Estados Unidos. As batalhas realizadas em campo aberto transformaram-se em verdadeiros massacres, com milhares de soldados morrendo, por exemplo, na Batalha de Gettysburg, na qual cerca de 30 mil sulistas morreram em poucos dias de confronto.

Derrota sulista:

    Os sulistas foram derrotados pelos nortistas à medida que sua economia foi sendo sufocada pelas ações impostas por Abraham Lincoln. A falta de apoio estrangeiro e o embargo marítimo, que impediu a entrada de mercadorias no Sul, acabaram destruindo a economia sulista. A crescente precariedade dos Confederados fez com que cerca de um terço do exército desertasse.
   Além disso, a partir da “Lei do Confisco”, os nortistas foram reavendo o controle sobre territórios anteriormente controlado pelos sulistas. Isso fez com que propriedades de sulistas fossem confiscadas por nortistas, o que favoreceu a fuga de escravos (que eram libertados caso fossem resgatados pelos nortistas). A fuga dos escravos intensificou o desmoronamento do sistema escravista e da economia sulista.
    Assim, a guerra que havia começado em nome da integridade territorial da União acabou tomando novo significado na luta pelo fim da escravidão. A nova postura de Lincoln, então, foi motivada principalmente por fins políticos, ao perceber que a defesa da abolição poderia aumentar sua popularidade tanto nos Estados Unidos como na Europa.
    A abolição da escravidão nos Estados Unidos foi decretada em 1º de janeiro de 1863 com a Lei de Emancipação dos Escravos e foi reafirmada com a promulgação da 13ª Emenda Constitucional em 1865, após o fim da guerra. A Secessão oficialmente terminou em maio de 1865, com a derrota dos sulistas, sua reintegração à União e com a abolição definitiva da escravidão no país.
   A Guerra de Secessão custou aos Estados Unidos mais de 600 mil vidas – mais do que qualquer outra guerra na história americana – e gerou grande destruição no Sul do país. A respeito dessa guerra, também se pode afirmar que: O conflito também serviu para criar o mito de Lincoln como grande estadista defensor da liberdade, forjar certo sentimento de identidade nacional baseada na superioridade do “mundo” do Norte, abrir caminho para o surgimento de determinadas leis comuns e definir a trilha histórica de um país unificado a partir das armas.



quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A Revolução Mexicana



   O processo de independência na América Hispânica, conforme salientado por vários estudiosos, não trouxe profundas transformações no antigo quadro colonial. No México, os traços eminentemente agrários e excludentes de sua economia ganharam maior força durante a ditadura estabelecida por Porfírio Diaz. Governando o México de 1876 e 1911, o chamado “porfiriato” teve como missão política maior preservar os privilégios da elite que abraçou o movimento de independência.
   Nesse período, a sociedade mexicana era formada por maioria de analfabetos que somavam um total de 11 milhões de pessoas. Grande parte dessa massa desinformada e miserável era composta por indivíduos de origem indígena submetidos ao desmando legitimado dos grandes proprietários de terra. Nesse contexto, notaremos a formação de um movimento popular afastado dos grandes círculos de discussão ideológica e política, marcado por seu caráter popular e social.
    Nos primeiros anos do século XX, camponeses começaram a se mobilizar em torno de um projeto reivindicatório que defendia maior acesso às terras. Nos centros urbanos, a oposição ao status quo se manifestava na ocorrência de greves operárias e críticas de jornal. Todo esse processo de oposição chegou ao ápice quando Porfírio Diaz anunciou sua renúncia, em 1911. Logo em seguida, defendendo a ampliação de direitos políticos, Francisco Madero foi eleito com um amplo apoio de uma população seduzida por promessas de reforma social e fim da exclusão social.
    As expectativas de uma população asfixiada por todo esse processo de segregação cercaram a posse do novo presidente mexicano. Os camponeses já se mobilizavam em torno de uma reforma agrária, ampliação dos direitos e liberdades, e a valorização do elemento indígena na sociedade mexicana. Sobre o lema “terra e liberdade”, os trabalhadores rurais foram liderados por Emiliano Zapata – caudilho da região sul – e Pancho Villa, camponês pobre da parte meridional.
A administração de Madero, em pouco tempo, tornou-se sinônimo de frustração. A insatisfação camponesa se traduziu na intensificação das revoltas contra os latifúndios e ações de combate direto. Francisco Madero, fazendo jus à sua ação demasiadamente reformista, não apoiou a ação campesina e protegeu os grandes proprietários de terra. O potencial revolucionário logo alertou as potências industriais que, na época, adotavam ações intervencionistas no continente americano.
    O andamento da revolução mexicana se intensificou quando Madero foi assassinado a mando do comandante do Exército Victoriano Huerta. O militar tentou arrefecer a onda revolucionária através da criação de um regime ditatorial. No entanto, as ações dos camponeses liderados por Zapata e Villa forçaram a queda do governo Huerta, em 1914. Um novo governo constitucional foi estabelecido com a eleição de Venustiano Carranza.
    A revolução mexicana tomava força enquanto as elites agrárias tentavam reorganizar o cenário político nacional. No ano de 1917, uma nova carta constitucional foi criada, legitimando o governo Carranza. Os revolucionários não apoiaram o novo presidente e se mantiveram em situação de luta. No entanto, a morte de Emiliano Zapata, em 1919, e de Pancho Villa, em 1923, causou o desmembramento da classe subalterna mexicana, dando fim ao processo revolucionário.