segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

A Revolução Islâmica Iraniana




"Tomados por um sentimento nacionalista e fortemente religioso, os iranianos derrubaram o governo pró-ocidente e levaram ao poder um grupo fundamentalista que alteraria o destino do Oriente Médio."


     Tudo aconteceu muito rápido. em janeiro, o último xá do Irã, um playboy com fama de promover as melhores festas do mundo, foge para o exterior. Em fevereiro, o líder da oposição, um religioso radical, coltou do exílio, foi recebido com triunfo e assumiu o poder. Em abril, o país transformou-se, após um plebiscito, em uma república islâmica, adotando como base uma interpretação fundamentalista das leis expressas no Alcorão. Depois disso, a história da região, uma das mais sensíveis em termos geopolíticos do planeta, jamais seria a mesma. A Revolução Islâmica de 1979 no Irã levou ao poder um grupo de religiosos com práticas antiamericanas e antiocidentais, que influenciou toda a região e gerou algumas das imagens que marcaram os anos 80 e 90.
     Durante o século XX, o Irã não havia sido um problema para o Ocidente. Pelo contrário, os governos iranianos haviam cooperado com as nações ocidentais. No início do século, por exemplo, os britânicos exploravam a maior parte do petróleo do país (ainda chamado Pérsia). Enfraquecido, o xá Ahmed, soberano desse rincão dependente, não resistiu a um golpe de Estado em 1921 e o líder rebelde Reza Kahn foi proclamado xá da Pérsia pelo Majlis (Parlamento).
   O novo governante tinha dois objetivos. Um era modernizar o país. tomando o ocidente como modelo, promoveu reformas nos sistemas educacional e Judiciário, além de construir hospitais e ferrovias. O mais importante, contudo, era livrar-se da dependência estrangeira. Primeiro , Reza Khan mudou o nome do país de Pérsia, palavra de origem grega, para Irã, como os próprios habitantes o designavam. Depois, nacionalizou tudo que pôde, como os serviços de telégrafos. Ao mesmo tempo, porém, o xá se aproximou dos nazistas alemães, de quem passou a importar tecnologia. Com a II guerra Mundial, o Irã foi invadido pelas tropas aliadas e Reza Khan foi afastado do poder, fugindo para o exílio na África do sul. Em seu lugar, com o apoio dos aliados, assumiu seu filho Mohammed Reza (chamado de Reza Pahlevi), de apenas 20 anos.
     Na década de 1950 ocorreu uma crise quando, apoiado pelo Parlamento, o primeiro-ministro nacionalista Muhammad Mossadeq decidiu estatizar as reservas de petróleo que estavam nas mãos dos ingleses. O xá, aliado dos britânicos, tentou demiti-lo, mas perdeu a queda de braço e foi obrigado a fugir do país. Foi então que os americanos decidiram intervir, ajudando a organizar um contra-golpe, que contou com o apoio de membros do Parlamento, líderes religiosos e militares. O primeiro-ministro foi preso, o xá voltou ao país e o petróleo retornou as mãos estrangeiras. Na década de 1960, o governo de Reza Pahlevi tornou-se mais ditatorial, iniciando uma campanha para eliminar os opositores. Um dos descontentes era um proeminente acadêmico xiita, conhecido como aiatolá Ruholaah Khomeini, que acabou expulso do país.
        Enquanto o xá levava uma vida de playboy, a nação sofria com uma grave crise econômica. E o aumento da repressão na década de 1970 reforçou a oposição ao governo. O pontapé inicial da revolução foi uma manifestação pró khomeini realizada em 1978 na cidade de Qum. Tropas do xá reprimiram o protesto, matando 70 pessoas. Do exílio, Khomeini ordenou que após 40 dias fossem realizadas cerimônias em memória dos mortos, como é tradição no país. Esses eventos, que passaram a se repetir a cada quarentena, se transformaram em protestos contra o governo. Seguiu-se uma greve geral que paralisou a economia do Irã. Em janeiro de 1979, Reza Pahlevi fugiu do país. Em fevereiro, Khomeini, que a esta altura vivia na França, voltou a Teerã, após 14 anos de exílio. Em seguida, o povo foi as urnas e decidiu, em plebiscito, o novo sistema de governo: uma República Islâmica, da qual khomeini se tornou chefe religioso e político.
         O país que surgiu desse movimento, no entanto, não teve vida fácil. A guerra contra o Iraque (1980 - 1988) provocou o isolamento do Irã perante a comunidade Internacional. Insatisfeitos com os rumos que a revolução vinha seguindo e desejosos de maior liberdade, em 1997 os iranianos elegeram um aiatolá reformista, Mohammad Khatami, que foi reeleito em 2001. A linha dura retoma o poder com a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, em 2005. Em 2013 o aiatolá Hassan Rohani assume o país mantendo a mesma linha de seu antecessor. 

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